Me lembro bem dos meus 21 anos de idade. Do fim definitivo da adolescência. Da impossibilidade de continuar vendo a vida sem o peso das cobranças e imposições da sociedade. Da dificuldade em superar a perda da licença poética para não ter que ser politicamente correta e fazer tudo de acordo com o que as pessoas esperavam de mim. Lembro do medo e das dúvidas que a falta de experiência me traziam. Lembro dos erros que cometi e do quanto esperei contar com apoio e compreensão das pessoas.

Hoje vejo um menino de 21 anos, entregue aos leões numa arena onde milhões de expectadores esperam pela próxima vez em que ele possa cair, torcendo pra que ele dê um passo em falso pra que possam mostrar toda sua indignação e revolta pela sua postura inaceitável.

Vejo os falsos moralistas, as feministas exaltadas, os protetores da moral e dos bons costumes comemorando euforicamente o único deslize desse menino, motivado sim por bebida, por fragilidade, por tristeza, por carência. E não me digam que não são justificativas, porque os mesmos que trazem os dedos em riste, apontam n argumentos para justificar atitudes de outras pessoas tão condenáveis quanto.

Apagam da memória o menino doce, que se doou e se entregou a outra pessoa sem reservas. Que aceitou essa pessoa do jeito que ela era e se moldou à sua forma de ser, abrindo mão muitas vezes das suas próprias necessidades de receber carinho, de ser mimado, de ser cuidado. Que se fez presente o tempo todo, enaltecendo, mostrando sua admiração, gritando aos quatro cantos todas as qualidades que ele tanto ama nessa pessoa. O menino que não teve vergonha em expor pra todo o Brasil sua tristeza, sua fragilidade por perder naquele momento aquela que pra ele jamais poderia ser mal julgada, porque a seus olhos não tem defeitos. Aquele menino que apoiou, acalentou, ajudou, protegeu, perdoou. Que nunca questionou qualquer atitude da pessoa pra quem entregou seu coração.

Enfim ... mas compreendo vocês que já fizeram seu julgamento e fazem questão de expor seu veredicto, condenando-o à execração pública. Porque realmente, o que ele fez foi imperdoável. Ninguém aqui, do outro lado da arena, cometeria um erro de tal importância. Porque somos todos perfeitos, somos um exemplo pra Sociedade. E exatamente pra que sirva de exemplo devemos mantê-lo jogado aos leões e torcer pra que seja devorado, para lavar a alma das feministas e manter intactos a moral e os bons costumes.

Parabéns a vocês. Que seus filhos, seus amigos, seus familiares recebam do mundo, da sociedade, o mesmo olhar coerente, piedoso e sensato que vocês vêm dispensando a esse menino.

Desejo de coração, que ele realize muito além do que imagina em seus sonhos.